Foco no micro e pequeno varejo trará competição a adquirentes

Mercado de Cartões. A atuação mais agressiva das fintechs e novos entrantes em companhias de porte menor, com taxas e prazos atrativos, já movimentam grandes players do setor para 2018

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Original em: https://www.dci.com.br/impresso/foco-no-micro-e-pequeno-varejo-trara-competic-o-a-adquirentes-1.689843

A entrada mais forte das fintechs e a pressão dos lojistas por opções melhores trará maior competitividade ao mercado de adquirência em 2018. A tendência é de adesão de novos serviços, taxas agressivas e foco nos micro, pequenos e médios varejistas.

Desde o ano passado os grandes agentes de mercado tentam acompanhar as taxas e produtos mais competitivos que o sistema de fintechs e os novos entrantes têm trazido ao segmento de cartões.

São 90 startups financeiras no setor de pagamentos, segundo o último levantamento do FintechLab – alta de 13,9% ante estudo anterior, com 79 iniciativas – e, na batalha pelo market share, por exemplo, players como Cielo e Getnet já trazem as maquininhas voltadas aos microempreendedores (Zip e Vermelhinha, respectivamente).

“A sensação é de que o setor está perto de uma nova curva de inflexão”, opina o consultor da Boanerges&Cia Vitor França, prevendo uma possível “revisão nas estruturas do mercado”.

“Lojistas e consumidores já não estão mais satisfeitos com o convencional e a ascensão de alternativas mais baratas e adequadas faz barulho nos resultados dos grandes players, que precisarão dar respostas mais agressivas em um cenário de grandes fintechs tem se saído tão bem”, completa França, referindo-se à oferta inicial da Pagseguro (já feita) e da Stone (ainda em discussão).

Ao mesmo tempo, representando quase 30% de todas as fintechs do País, o avanço dessas iniciativas voltadas ao setor de pagamentos não para.

A iZettle, por exemplo, que atua entre os pequenos negócios e que está em 26º lugar no ranking de fintechs mais importantes do mundo, segundo a KPMG, recebeu 130 milhões de euros em aportes em 2017 e já se prepara para abrir seu capital societário na Europa.

“Nossa expectativa é que o estímulo da concorrência no mercado seja cada vez mais forte”, avalia o CEO da companhia, Daniel Bergman.

“Conforme as pequenas empresas têm contato com taxas mais competitivas e tecnologias que facilitam sua vida, os grandes players sentem a necessidade de inovar numa tentativa de se blindarem contra a inevitável perda de participação que têm sofrido”, completa.

Ainda na esteira de novos produtos e da disputa por share, a presidente da Global Payments no Brasil, Marcia Mello reforça que a perspectiva mais otimista para este ano também colabora para o crescimento do setor e para a vinda de novos entrantes.

“Esse cenário corrobora para a nossa estratégia de atender mercados novos e clientes com carência de atendimento, evitando a discussão da precificação, focando no desenvolvimento de novas soluções e buscando alternativas de ganhar marketshare”, diz a CEO da Global Payments.

Para os grandes, além da criação de novos produtos e funções, a aposta também está na integração de seus sistemas com os serviços bancários – como é o caso da Getnet, por exemplo, que tem seus modelos incorporados à infraestrutura do Santander.

De acordo com o presidente da companhia, Pedro Coutinho, o acirramento da competição no mercado “empodera o consumidor”, dando opções em ofertas para que o lojista “escolha a mais atrativa ao seu negócio”.

“Estamos investindo pesado em inovação e atendimento ao cliente, produtos e serviços no físico e no digital. A Conta Jurídica, integrada com a solução de pagamento, e a Conta Conecta, conta corrente integrada com a Vermelhinha, são dois grandes exemplos do que fazemos”, afirma.

A Getnet teve alta de 31% no ano passado e, segundo Coutinho, deve manter o crescimento nos dois dígitos ao longo de 2018.

Para o diretor de produtos da Rede, Rodrigo Carneiro, as perspectivas do segmento, porém, continuam positivas.

“Acreditamos que o mercado tem alto potencial de crescimento para 2018. Esse é um mercado que evolui rapidamente e as novas tecnologias ganharão espaço à medida que elas se provarem mais convenientes para lojistas e consumidores”, conclui.

Equilíbrio

Simultaneamente, as discussões da substituição do parcelado sem juros nas vendas com cartão para uma espécie de crediário – que diminuiria o prazo de pagamento aos lojistas – divergem opiniões dos players.

O debate se estende, inclusive, sobre a manutenção da taxa líquida de desconto (MDR, da sigla em inglês) sem perder espaço no mercado.

“O sistema entendeu que o valor para os pequenos lojistas é uma solução simples que ofereça um sistema de gestão completo. A discussão é o quanto os dinossauros [players tradicionais] conseguem se mexer para não ficarem no passado”, analisa o consultor Rafael Durer.

Segundo Coutinho, a Getnet “estuda diariamente” a precificação de seus negócios. “Nos últimos anos, temos conseguido aumentar a competitividade, sem baixar a qualidade dos produtos aos clientes”, pondera.

Já para França, o problema é que é preciso cuidado para que, em um momento de lenta recuperação como o de agora, tais decisões não impactem a volta do consumo. “Independente de para quem o custo caia, a tendência é de minimizar riscos, o que afetaria as vendas de qualquer forma. Não se pode pensar em um só lado”, complementa.

Contactada pelo DCI, a Cielo não respondeu até o fechamento desta reportagem.